Era para não acreditar no amor. Nunca mais... Era para ter
fugido, esquecido de si mesma. Poderia estar muito longe daqui, sendo
igualmente desigual, como tantos pensam que são. Era para estar desiludida com
todos os valores, e desvalorizar a sua essência. Era para acomodar-se em
tristezas e aproveitar a solidão. Entregar-se às opções insanas propostas pelas
noites em fins de semana de verão. Poderia falar e praticar outras besteiras. Mas,
afinal de contas, o que são besteiras... Poderia investir em aparências.
Poderia perdoar... Poderia ficar no chão ou cair no mundo.
Era para ficar mais
tempo acompanhada de suas lágrimas. Era para ser devagar. E dentre tantas maneiras
de esvair-se de suas marcas, perderia a fé. E perderia a vida. Jamais voltaria
a sonhar. Teria pavor de envolvimentos amorosos, pois envolvimentos amorosos
não existiriam mais. Seguiria por um caminho ornamentado de músicas deprimentes,
prazeres passageiros... Mas seria inteligente, reconhecida e bem paga. Afinal,
engoliria de uma vez por todas que não existe espaço para todos os sonhos.
Muito menos para todo coração.
Até que um dia entregou o pouco que possuía nas
mãos de Deus. Embora admitisse ser fraca demais, ousou esticar os braços, como
se quisesse emergir-se de águas turvas. E foi então que tudo se renovou
milagrosamente, fortalecendo intensamente a esperança e tornando tudo ainda mais
excitante.
Compreendeu que é feita de coração.
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